Era uma vez… um artigo que escrevia melhor com a ajuda da Inteligência Artificial
A escrita científica, historicamente, sempre foi um dos grandes desafios para estudantes e pesquisadores. Organizar ideias, manter clareza, respeitar as normas técnicas e comunicar com precisão são tarefas complexas — e, agora, felizmente, contamos com o apoio da inteligência artificial (IA) para esse processo.
Ferramentas como o ChatGPT, baseadas em modelos de linguagem natural, têm sido amplamente utilizadas para revisar textos, melhorar a coesão, sugerir estruturas mais claras e até adaptar o vocabulário ao público-alvo da publicação. O importante é destacar que seu uso responsável não configura plágio nem fraude científica, desde que não haja geração de conteúdo inédito sem revisão crítica do autor e que o uso seja transparente.
Diversas revistas científicas de alto impacto já aceitam — e inclusive recomendam — que, se uma ferramenta de IA foi utilizada, essa informação conste na seção de metodologia ou nos agradecimentos. Isso reforça a transparência do processo editorial e reconhece o avanço tecnológico como parte integrante do fazer científico contemporâneo.
Em 2023, a Nature publicou uma diretriz editorial afirmando que “nenhum modelo de linguagem artificial pode ser listado como autor, pois não pode assumir responsabilidade pelos conteúdos”. No entanto, reconhece-se que essas ferramentas podem ser utilizadas para refinamento linguístico e organizacional do texto, desde que seu uso seja declarado.
Segundo um artigo recente publicado na Radiology (2023), o uso da IA na escrita científica tem contribuído para reduzir barreiras linguísticas, principalmente para pesquisadores não nativos em inglês, e tem potencial para acelerar a produção de conhecimento — desde que haja supervisão ética e rigor acadêmico.
Em resumo: usar IA na escrita científica não é desmerecer o trabalho intelectual do autor. Pelo contrário, é demonstrar que estamos atentos às inovações, buscando qualidade na forma e no conteúdo da nossa produção científica. Trata-se de uma verdadeira revolução silenciosa — que veio para ficar.
Referências:
1. Nature Editorial. Tools such as ChatGPT threaten transparent science; here are our ground rules for their use. Nature. 2023;613(7945):612. doi:10.1038/d41586-023-00191-1
2.Biswas S. ChatGPT and the Future of Medical Writing. Radiology. 2023 Apr;307(2):e223312. doi: 10.1148/radiol.223312. Epub 2023 Feb 2. PMID: 36728748.
3. Stokel-Walker C. ChatGPT listed as author on research papers: many scientists disapprove. Nature. 2023 Jan 26;613:620–621. doi:10.1038/d41586-023-00107-z